Publicado: Terça, 19 Maio 2020 12:06
  Autor: Gabriel Mario Rodrigues
  Fonte: Abmes Blog
  Link: https://blog.abmes.org.br/os-humanos-serao-cada-vez-mais-rastreados/

Já estamos chegando a 370 artigos escritos semanalmente para o blog da ABMES, procurando comentar as atividades, eventos e questões relativas ao Ensino Superior. Além dos temas educacionais, acompanho o que acontece na área das empresas e do mercado de trabalho, em especial as transformações que a tecnologia, a informática, a comunicação, a inteligência artificial e as ciências em geral estão criando no mundo. Minha atenção especial é como o setor educacional poderá se preparar para formar o cidadão capaz de conviver com os desafios do futuro. 


Eis que de repente o planeta é atingido por um vírus mortal capaz de aniquilar a raça humana e obriga a sociedade a repensar o seu modo de atuação se quiser sobreviver. Um e-mail enviado pelo amigo e membro do Conselheiro de Administração da ABMES Edson Franco coloca numa síntese objetiva os temas preocupantes que, de uma forma ou outra, estão atingindo a humanidade e que estão inseridos daqui para a frente na questão de formação educacional. Nada como uma pandemia destas para nos fazer pensar sobre quais competências cognitivas e socioemocionais e quais habilidades nossos estudantes precisam ter para se realizarem profissionalmente e terem boa qualidade de vida.

Parafraseando Yuval Nohal Harari, enfatizo: “O problema crucial não é criar novos empregos. E criar novos empregos no qual o desempenho dos humanos seja melhor que os Algoritmos”. Os temas relacionados pelo prof. Edson indicam os dezesseis cenários seguintes:

1- A tecnologia substituirá os trabalhos repetitivos

2- O comércio eletrônico dominará os setores produtivos

3- As empresas zelarão mais pelos seus acionistas, pelos seus funcionários e pelos seus clientes

4- O comércio tradicional vai encolher. Espaços usados serão repensados

5- As reuniões serão cada vez mais realizadas, usando o Zoom. As reuniões serão mais virtuais e menos presenciais.

6- As empresas (escolas) precisam definir os seus focos: social, político, religioso, econômico, humano e educacional

7- As improvisações serão cada vez mais, menos aceitas

8- Os dirigentes tem de estar mais antenados com as mudanças

9- Os humanos serão cada vez mais rastreados

10- A verdade virtual já é hoje uma realidade

11- Os conteúdos escolares serão mais objetivos e mais sintéticos

12- Os desafios da tecnologia estão sendo cada vez mais superados

13- Definir os focos é redefinir a escola, eis o problema

14- As desigualdades sociais serão cada vez mais rejeitadas

15- Nas escolas, o humano será mais importante que o conhecimento

16- O conhecimento está aí, disponível e é barato. As competências e as habilidades precisam ser desenvolvidas.

Para mim, o mais intrigante destes 16 pontos é o rastreamento mais intensivo que será feito sobre as pessoas pelas “agências de informações” e que tem tudo a haver com a inteligência de dados. Certamente essa é uma das ocupações mais demandadas no momento.

No século passado, o petróleo foi sem dúvida uma das maiores indústrias e, hoje, explorar, minerar e administrar dados é a atividade estratégica mais importante dos países, das empresas e das instituições, para alcançarem sucesso em suas intervenções de interação com seus públicos-alvo. Veja-se: depois de liberada a quarentena na cidade de Wuhan, onde começou o novo coronavírus, ao apanhar qualquer transporte público, os chineses apontam seus celulares para um receptor, que o identifica para uma central, rastreando seus dados para analisar as atividades realizadas, com quem estivera nos dias anteriores e cruzando informações para saber se estava infetado.

Yvan Harari em seu livro “Homo Deus” expõe sua preocupação sobre o domínio que os algoritmos terão sobre os humanos, num contexto em que qualquer passo ou opinião que um cidadão der poderá ser detectada pelos órgãos de controle. Mais ainda, um algoritmo externo será capaz de conhecer melhor nossas emoções, sentimentos e o que desejamos. Uma vez desenvolvido, esse algoritmo poderá substituir um juiz, um dirigente ou o eleitor, o cliente ou o observador de arte.

O autor dá um exemplo emblemático: daqui uns anos os algoritmos poderão votar por nós, porque, rastreando todas as nossas mensagens na internet e nas redes sociais, eles sabem como pensamos e o que queremos e decidem melhor afastando-nos das opções políticas emocionais que temos na última hora, quando votamos. E não só isso, até nos casos amorosos o Google poderá dizer quem pode ser entre Paulo e Miguel o noivo a ser escolhido pela Carol que está em dúvida. Ele conhece a Carol desde bebê, arquivou todos os e-mails que ela enviou e dados das redes sociais que participa. Tem todos os gráficos dos batimentos cardíacos de quando ela está com um e outro. Sabe seu DNA e tem gravações de todas as conversas que ela teve com as amigas. Ela escolheu Paulo e o Google disse que o casamento não durará 6 meses.

Fique sabendo que os algoritmos podem conhecer todos os seus passos, observando todas as suas compras, com quem você anda, que livros lê e que filmes que assiste. Sabe por onde passa, monitora suas respirações e batidas de coração. E, quando o conhecerem melhor, serão capazes até de controla-lo e manipular suas decisões. A dúvida é o quanto isto vai ser bom para você.

Harari aconselha: se é isto que você quer, relaxe e aproveita a vida; mas, se não for e você quer ter algum controle sobre sua existência, deverá correr mais rápido do que os algoritmos, do que a Amazon e do que o governo, para conseguir se conhecer melhor do que eles.

Os cenários mostram os desafios a serem enfrentados pelo planeta terra e as dificuldades que os estados e agentes políticos têm para se entenderem e objetivarem ações em seus países. São também as trilhas de problemas que o setor educacional precisa compreender para dar solução e sucesso aos seus estudantes. As instituições particulares para sobreviverem certamente se adaptarão às novas circunstâncias, haja visto o que as escolas de ensino básico do dia para a noite se adaptaram a ensinar a distância. Porém, a Convid-19 veio mostrar com mais evidência a falência do ensino publico básico. Do que adianta falar em internet se 50% das escolas não têm nem água e nem esgoto?

Com as máquinas substituindo os humanos haverá gente sem o que fazer e vai ser o grande problema a ser solucionado. E, portanto, não adianta só ter uma grande economia. Será preciso criar novos empregos no qual o desempenho dos humanos seja melhor do que dos algoritmos. 

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