Publicado: Segunda, 31 Outubro 2016 15:04
  Autor: Bárbara Ferreira Santos
  Fonte: Exame.com
  Link: http://exame.abril.com.br/brasil/so-3-estados-abrigam-45-das-vagas-em-faculdades-do-brasil/

Educação (Edilson Rodrigues/Agência Senado/)Elevada concentração de alunos do ensino superior no Sudeste do país é explicada pelo avanço das particulares.


São Paulo — Três estados brasileiros concentram a maior parte dos alunos que frequentam a graduação presencial no Brasil: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Juntos, eles possuem 45% das matrículas de todo o país, segundo dados do Censo da Educação Superior, divulgados no início deste mês pelo governo federal.

Esse cenário já se repete por décadas e há uma explicação para isso: as matrículas nesses locais são impulsionadas principalmente pela rede privada.

Se consideradas apenas as faculdades privadas do Brasil, os estados de São Paulo, Minas e Rio correspondem a quase metade (49%) delas. Só São Paulo possui 30% dos alunos das particulares.

Como esses três estados têm grandes densidades demográficas, mercado competitivo e alta demanda por ensino superior, eles são atraentes para as instituições particulares, explica o pesquisador do IPEA Paulo Corbucci. “O setor privado vai aonde tem demanda e maior capacidade de pagamento”, afirma Corbucci.

Queda no crescimento

O setor, no entanto, está enfrentando uma queda no crescimento. Se na década de 1990 – quando as particulares mais se expandiram no país – o crescimento chegou a 17%, o valor registrado em 2015 foi de apenas 4,5%.

“Agora estamos em um processo de estabilização e concentração de capital, ou seja, as instituições privadas estão diminuindo para um número limitado de mantenedoras”, diz Corbucci.

Grandes fusões de universidades têm acontecido principalmente no Sudeste do país. Em julho deste ano, a Kroton, maior empresa de educação superior privada no Brasil, acertou uma negociação para comprar a Estácio, sua concorrente direta, por exemplo.

Para entidades que representam o setor, a razão que levou à diminuição do número de particulares foi o desemprego gerado pela crise econômica e o encolhimento do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), como explica o diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), Janguiê Diniz.

“Em 2015, em razão dos cortes orçamentários do governo federal, o Fies sofreu redução: em 2014, foram oferecidas 713 mil vagas, enquanto que em 2015 foram 287 mil”, afirma Diniz. “Mas, mesmo com a queda, as instituições privadas são responsáveis por 75,7% dos oito milhões de estudantes de graduação do país.”

Mais público que privado

Na contramão do que acontece no país, três estados ainda conseguem manter mais alunos no ensino público que no privado: Paraíba, Tocantins e Roraima. No entanto, nesses três locais as redes públicas superam por pouco as particulares.

Segundo Corbucci, esse fenômeno ocorre porque as redes federais foram as primeiras a se fortalecer nesses estados. No entanto, ele explica que a diferença entre faculdades públicas e particulares tem diminuído ao longo dos anos e tende a se inverter no futuro. “Se olharmos há uns dez anos, quase toda a região Norte tinha mais aluno na pública que na privada”, exemplifica.

Segundo a professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e especialista em educação Rosilene Lagares, o que faz com que esses estados ainda tenham mais alunos em universidades públicas é o investimento em políticas de permanência e não só de ingresso na graduação.

“Não adianta apenas criar vagas. As universidades têm que garantir que os estudantes tenham acesso, permaneçam estudando e cheguem a concluir o curso”, diz Rosilene.

Proporção elevada de particulares

Tanto Rosilene quanto Corbucci acreditam que a proporção de escolas particulares no país é excessiva. “Se compararmos o Brasil com países da América Latina que têm uma realidade semelhante à nossa, como a Argentina, a participação do setor privado brasileiro está muito acima da média”, afirma Corbucci.

Vale lembrar que, de acordo com dados do Censo da Educação Superior de 2015, 81,7% das novas matrículas no ensino superior estão nas instituições privadas e cerca de 18,3% nas públicas. O Plano Nacional de Educação, no entanto, prevê que a participação da rede pública chegue a pelo menos 40% até 2024.

Já para o diretor-presidente da Abmes a rede particular é essencial no Brasil porque “o setor público não tem capacidade para atender ou manter os estudantes, Além disso, para o governo, é mais barato manter os estudantes no ensino particular do que criar novas vagas no ensino público”, afirma Janguiê Diniz.

Os três concordam, no entanto, que o governo federal precisará investir mais para garantir que os alunos tenham a oportunidade de entrar em uma graduação — seja na rede pública ou na rede particular (por meio do ProUni e do Fies).

O desafio do Brasil será elevar, até 2024, a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% da população de 18 a 24 anos e a taxa líquida para 33% — em 2015, as taxas eram de 32,1% e 21,2%, respectivamente.

Veja o ranking de estados que possuem o maior número de alunos na graduação presencial (não alunos de EAD): 

EstadoTotal de matrículas na graduação presencialRede PúblicaRede Privada
SP 1.717.275 268.927 1.448.348
MG 677.478 190.076 487.402
RJ 573.267 146.738 426.529
RS 395.851 97.012 298.839
PR 389.966 128.710 261.256
BA 326.536 100.583 225.953
CE 243.905 80.240 163.665
SC 235.332 74.620 160.712
PE 231.809 84.475 147.334
GO 209.158 60.645 148.513
DF 186.175 36.205 149.970
AM 159.119 54.466 104.653
PB 136.330 70.469 65.861
PA 134.211 62.476 71.735
MT 130.245 39.629 90.616
MA 129.630 49.980 79.650
ES 119.805 25.856 93.949
RN 112.850 49.574 63.276
PI 97.724 44.145 53.579
MS 91.739 29.906 61.833
AL 82.497 33.774 48.723
SE 72.125 26.119 46.006
TO 52.420 26.567 25.853
RO 48.926 10.260 38.666
AP 35.015 12.347 22.668
AC 25.175 10.334 14.841
RR 18.982 9.619 9.363
Brasil 6.633.545 1.823.752 4.809.793

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