Publicado: Segunda, 17 Outubro 2016 16:24
  Autor: Carolina Monteiro
  Fonte: Correio de Uberlândia
  Link: http://www.correiodeuberlandia.com.br/cidade-e-regiao/oferta-de-cursos-distancia-tem-maior-crescimento-desde-2011/

Geovana Melo, docente da Faced-UFU (Foto: Celso Ribeiro)O número de cursos de licenciatura da modalidade Educação a Distância (EAD) cresceu 5,04% em 2015, em relação a 2014 – maior arrancada desde 2011, quando o índice foi 7,29% superior ao ano anterior. Os dados são do Censo da Educação Superior 2015, divulgados pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O crescimento da modalidade se dá em detrimento da performance das licenciaturas presenciais, que registram quedas desde 2013 – o número caiu de 7.261 a 7.004 entre 2015 e 2014, retração de 3,5%. 


Segundo a professora da Faculdade de Educação da UFU (Faced-UFU), Geovana Melo, a expansão da EAD se deve à necessidade de formação superior de educadores no Brasil. “Ainda temos áreas em que há grande defasagem de professores formados, especialmente, de Exatas e Biologia, no Norte e Nordeste. Mas é importante notar que esta expansão ocorre, primordialmente, em instituições particulares”, afirmou Geovana Melo. Segundo o Inep, a rede privada concentra 90,8% do total de matrículas na EAD, de 1,4 mi registradas em 2015.

A UFU oferece quatro cursos de licenciatura na modalidade EAD, sendo de Pedagogia, Letras-Espanhol, Letras-Inglês e Matemática. O primeiro foi criado em 2009, seguido por dois outros em 2011 e pelo último em 2013.

Segundo a diretora do Centro de Educação a Distância da UFU (CEAD), Maria Teresa Menezes Freitas, atualmente, em função do recuo nos investimentos do governo federal no Ensino Superior, o crescimento das graduações EAD estacionou. Na Universidade Paulista (Unip), os cursos de licenciatura EAD são oferecidos desde 2005, quando a instituição abriu cinco cursos. Em 2014, o número cresceu 80% com a abertura de novos quatro cursos e, em 2016, mais 33,3%, quando ofereceu outros três, totalizando 12 licenciaturas, sendo em Letras–Português, Letras–Inglês, Letras–Espanhol, Matemática, Pedagogia, Artes Visuais, Geografia, Sociologia, História, Ciências Biológicas, Física e Química.

Flexibilidade de horários

Graduada em Direito, Patrícia Ferro, de 34 anos, se despertou para a Educação em 2010, quando decidiu se graduar em Pedagogia. Ingressou no curso presencial da UFU, em 2011, logo que ficou grávida do primeiro filho. “Tentei seguir adiante, pegando licença e trancando, até não conseguir mais conciliar e, em 2012, abandonar. Mas queria seguir meu propósito e, para maior praticidade, escolhi fazer EAD, pois tenho condições de fazer minha própria agenda”, disse Patrícia Ferro.

Levy Costa, de 24 anos, também ingressou em Ciência da Computação, em 2010, mas acabou trancando o curso presencial, por não ter acessibilidade comunicativa, já que o estudante é surdo. “Só tinham dois intérpretes de Libras, nem sempre disponíveis. Quando fazia a leitura labial do professor, não conseguia entender os raciocínios lógicos e me sentia limitado”, afirmou Costa. Em 2012, decidiu cursar Pedagogia a distância por oferecer aulas totalmente acessíveis, na universidade que escolheu. “Me sinto mais preparado e pretendo, no futuro, atuar como pedagogo empresarial”, disse o estudante, que já trabalha.

Jonathan Sampaio, de 21 anos, também deixou o curso presencial de Logística para cursar EAD em Letras e Literatura. “Queria fazer licenciatura, mas não conseguiria novamente cursar o presencial, pelo tempo de dedicação que exige, pois trabalho. No EAD, posso coordenar meu horário de estudo”, disse Sampaio. O preço também foi atrativo para o estudante. “Já tinha gasto muito com o curso presencial e não poderia arcar com um gasto semelhante. Hoje, pago valor mínimo de R$ 250. Antes, pagava cerca de R$ 400”, afirmou.

Pedro Henrique Melo faz Direito presencial e História a distância (Foto: Celso Ribeiro)
Formação complementar

Além de responder à demanda de formação de professores, as licenciaturas a distância também são alternativas para pessoas que buscam ampliar a atuação. É o caso de Pedro Henrique de Melo, de 21 anos, que cursa bacharelado presencial em Direito e licenciatura a distância em História. “Costumo brincar que o Direito é minha paixão, mas História é meu amor”, disse Melo, que já leciona em cursinho. Para ser feliz no amor, a EAD foi sua melhor opção. “Também trabalho em escritório de advocacia e sobra pouco tempo. Além de mais flexível, a EAD é mais enxuta, meu curso dura três anos”, disse o graduando.

Jessica Peixoto Rodrigues, de 28 anos, concilia o mestrado presencial, na área da Saúde, com a licenciatura a distância, na área da Educação. “Esperava ser chamada para um concurso em Enfermagem, minha área de formação presencial, quando surgiu oportunidade de trabalhar como educadora infantil. Quando fui chamada, tive que mudar de cidade e a melhor forma de seguir na Educação foi a distância. Me mudei três vezes de cidade desde então e minha graduação em Pedagogia não foi prejudicada em nada. Agora tenho duas formações, nas quais posso atuar segundo as demandas do mercado”, afirmou Jéssica Rodrigues.

Jéssica Rodrigues optou pelo ensino a distância (Foto: Celso Ribeiro)
Especialista defende o primeiro diploma presencial

“Existem cursos EAD sérios, que têm Projeto Pedagógico de Curso (PPC) bem elaborado, com metodologias próprias e uma matriz curricular que atende às diretrizes nacionais para a formação de professores. Mas existem também cursos EAD que são fábricas de diplomas. Há um forte lobby de instituições privadas ao poder público, que facilita o reconhecimento de cursos de qualidade bastante duvidosa. Particularmente, defendo que a primeira graduação deve ser presencial, de preferência, em instituição pública”, disse Geovana Melo.

Graduada presencialmente em Ciências Sociais, pela UFU, Nathalia Lima, de 29 anos, cursa Pedagogia a distância. “Já dou aulas e sou pós-graduada na área, mas preciso da graduação para atuar. Optei pela EAD por praticidade, mas sempre tive críticas à modalidade, hoje, ainda mais. Sobretudo, quanto ao aprofundamento teórico, inconsistente. A apostila aborda teorias de forma superficial e as videoaulas repetem a apostila, sem acrescentar nada”, disse Nathalia Lima.

Segundo a professora, na graduação presencial, a turma tinha que ler um livro por mês para frequentar as aulas. “Na EAD, até hoje, não pediram para ler um livro sequer. Além disso, o sistema de avaliação é falho e os momentos de discussão em grupo que temos são esvaziados. Fico preocupada com o profissional que tem essa única formação. Será que têm ferramentas para lidar com as questões complexas que a sala de aula coloca para o professor?”, disse Nathalia Lima.

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