Publicado: Quarta, 05 Fevereiro 2014 16:37
  Fonte: Portal O Globo


Brian Perkins é autor de estudos sobre o clima em sala de aula, envolvendo expectativas de professores e alunos.


O professor Brian Perkins
Foto: Foto de divulgação

RIO - Professor da Universidade de Columbia, Brian Perkins é autor de estudos que mostram como o clima em sala de aula influencia o aprendizado. O especialista, que esteve no Rio no fim de 2013 para um evento na Escola Sesc, está hoje em conversas com a Secretaria municipal de Educação para fazer uma pesquisa semelhante na rede carioca.


 

Quem deve ser o líder dentro de uma sala de aula: o professor, o aluno ou ambos?

 

BRIAN PERKINS: Ambos. É preciso que haja oportunidades para que os alunos se apropriem da experiência de aprendizagem. Vou dar exemplo: quando eu estava na 6ª série, minha irmã estava na faculdade. Eu ficava lendo seus livros sobre o Egito Antigo. E, nas minhas aulas de História, eu percebi alguns equívocos do professor sobre o assunto. Daí levantei a mão para dizer que gostaria corrigir o professor. E ele disse: “ok , você venceu, pode me corrigir, desde que seja explicando para toda a classe”. E assim eu fiz. Agora, dando aula na universidade, também abro espaço para meus alunos compartilharem conhecimento sobre capítulos de livros, pois também quero saber as visões e perspectivas deles, o que eles adquiriram com o estudo. Isso é parte do aprendizado.

 

De que forma essa abertura pode contribuir para a aula?

 

Acho que devemos aproveitar essas oportunidades, quando os alunos sabem mais sobre um assunto do que o professor. Eles também têm a capacidade de conhecer mais, se lhes for dada a atribuição. Não só é bom porque desenvolve a liderança, mas também porque o cérebro realmente funciona melhor se eles tiverem a oportunidade de criar a suas próprias experiências.

 

Quais são os benefícios de ser um líder na sala de aula?

 

Ser um líder traz muita responsabilidade e, por isso, é realmente difícil pensar em termos de benefício. É mais uma obrigação e uma responsabilidade. O benefício, em termos de aprendizagem, é que o professor é mais um facilitador. Eles não apenas leem os livros para os alunos, mas também criam perguntas para que os alunos possam responder. Então os alunos constroem seus conhecimentos em vez de apenas guardar tudo o que os professores lhes dizem. Não é para dizer aos alunos quais são fatos, mas, sim, deixá-los experimentar e explorar.

 

É como se o estudante fosse um autodidata?

 

Não exatamente. É ser responsável por aquilo que você aprende. Essa é a razão de você ficar bom em aprender coisas: você pode pensar que em qualquer coisa que você é bom, o motivo provavelmente é porque você gosta dela. E é por isso que defendo dar ao aluno a oportunidade dessa aprendizagem, para estudar e associar o estudo com as coisas que gosta.

 

Abordando agora suas pesquisas sobre o clima nas escolas, o que conta mais na hora da aprendizagem: o clima em sala de aula ou a qualidade do ensino?

 

Essa é uma pergunta muito boa, e fico me questionando o tempo todo. Mas o que posso dizer é que ambos são igualmente importantes. O lado do efeito "ambiente escolar" é tão importante quanto o lado cognitivo, o lado da aprendizagem que eles fazem. Por exemplo, considere uma escola com regras estabelecidas. Eu não tenho que dizer sempre aos alunos o que pode e o que não pode fazer, pois eu já parto do princípio de que eles já tem consciência. Agora, se o ambiente não é ordenado, eles não aprendem. Se não houver uma espécie de estado psicológico comum, os alunos não podem aprender. Se você descobre que os alunos de uma escola estão com medo de levantar a mão e fazer uma pergunta, não é um bom ambiente, porque você quer que os alunos façam perguntas. Mas se eles não fazem perguntas, eles não aprendem.

 

Você acha que o nosso modelo de escola é autoritário?

 

Eu acho que o modelo predominante de escolas em todo o mundo é autoritário. Nós queremos que os alunos assumam responsabilidades também. Queremos que eles digam 'eu fui para a escola hoje, mas eu não me dei por satisfeito, e agora eu vou buscar por mim mesmo o que eu preciso. Mas são poucas escolas com modelo construtivo, de deixar os alunos descobrir as coisas, deixando-os criar e trabalhar em grupos que conversam entre si. As pessoas estão mais focadas no controle do que no conteúdo que elas estão aprendendo.

 

E nos casos de conteúdos mais "duros" como a Matemática, como ensiná-los sem ser autoritário?

 

Não ser autoritário não significa que é preciso abandonar a estrutura. Quer dizer, você ainda pode ter estrutura, mas tem que dar um sentido ao conteúdo. Não adianta ensinar Matemática sem significado. Eu vi uma vez uma camiseta que dizia: 'Eu tenho 30 anos e eu ainda uso álgebra". É o mesmo quando te dizem ainda pequeno 'você ainda vai precisar disso um dia'. E é verdade.

 

Mas se esse dia nunca chegar?

 

Se nunca chegar, é porque ninguém mostrou a conexão. Você usa álgebra toda hora em sua vida, mas as pessoas não refletem muito sobre isso. O professor que ensina Matemática tem que repassar os conceitos de matemática. Ensinar o conceito não significa ser autoritário. Autoritária é a postura que você assume em seu ensino: "Eu sou o professor e eu sei de tudo e você tem que buscar o conhecimento através de mim agora". É isso, você pode ensinar-lhes as habilidades e, em seguida, dizer-lhes onde eles pode aplicá-las. A postura influencia muito o ambiente de aprendizagem.

 

No Brasil, temos alguns exemplos de professores que tentam fugir desse modelo autoritário. Eles fazem um monte de piadas, dançam no meio da sala de aula, e dizem que esta é a forma como eles podem promover a curiosidade do conteúdo em seus alunos. Como você enxerga essa técnica?

 

Eu acho que pode ser uma boa ferramenta, mas não deve ser usada toda hora, é preciso equilibrar. As pessoas usam diferentes métodos para manter os alunos envolvidos, isso depende do seu estilo, mas as pessoas às vezes acabam abusando do humor, e o que acontece é que alguns se distraem. Você pode brincar, mas tem que manter o que eu chamo de "3 Rs".

 

O primeiro é o rigor: você tem que ser rigoroso. O segundo é que ele tem que ser relevante, tanto para o professor quanto para o aluno. E por fim, tem que existir uma relação entre o professor e os alunos. E o relacionamento tem que ser aquele em que os alunos olham para o professor como uma boa fonte de informação, de companheirismo. Essas são as três coisas que eu digo que tem que estar no lugar em qualquer sala de aula.

 

Alguns estudantes no Brasil se queixam de que os nossos conteúdos são engessados. É melhor para o aluno escolher o tema sobre o qual ele iria se concentrar para seu futuro profissional?

 

Você tem alunos que são como Mozart. Tudo o que fez foi ser bom no piano. O talento deles pode torná-los ricos, mas o que mais eles poderiam saber além? Como eles poderiam funcionar em um mundo sem conhecer a história, ou a ciência? Você vê o que eu estou dizendo? Se você não ensinar-lhes mais disciplinas, mais áreas, eles não podem sobreviver. Então, é preciso dar-lhes as ferramentas e é isso que é o importante. É que eles tenham as ferramentas para fazer mais.

 

Em seus trabalhos, você demonstra que o clima é um dos principais agentes influenciadores do aprendizado. Aqui no Brasil, começamos a ter a ocupação de comunidades que antes eram negligenciadas pelo poder público e viviam com altos índices de violência. Você acredita que com a pacificação, as escolas dessas regiões podem ter melhor rendimento acadêmico?

 

Isso é óbvio. Como uma criança poderia que se escondia na escola durante tiroteios poderia aprender alguma coisa? Se o ambiente ao redor da escola muda, dentro da escola também vai haver reflexos. E nesse caso, para o lado positivo. Pesquisas daqui já demonstram que as unidades dentro e UPPP tem melhorado nos índices escolares. É um efeito diretamente proporcional. Os casos de escolas em áreas de conflito é o exemplo extremo de como o clima influencia o aprendizado.




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