Publicado: Terça, 28 Janeiro 2014 15:55
  Autor: Paula Rafael G. Valelongo
  Fonte: Portal Cruzeiro do Sul


Passado o segundo semestre do ano, que é sempre igual àqueles que visam o ingresso em uma universidade, devido às apostilas, provas simuladas, ao Enem, e à maratona de vestibulares para renomadas instituições e seus cursos disputadíssimos, é chegada a hora de conferir a tão desejada aprovação. 

Junto ao sonhado ingresso na universidade, vem a ideia de que uma vida repleta de realizações e sucesso começa a partir da escolha do curso e da instituição, o que corrobora para a pressão normalmente enfrentada pelos alunos diante de decisões e escolhas a serem tomadas. 


Ao conversar com alunos em fase pré-vestibular e refletir sobre a sociedade atual, é possível perceber que, além da mídia, a pressão pela escolha dos melhores cursos e instituições vem da família e dos professores que os preparam para o vestibular, que visam também o mercado de trabalho. Há uma preocupação, por parte dos alunos, pais e professores, e uma necessidade de que seus filhos e alunos sejam aprovados em instituições de renome e em cursos nobres, para que consigam, assim, sucesso e destaque no mercado de trabalho, como se só isso lhes trouxessem alguma garantia. 

Essa ideia, porém, está há tempos naturalizada em nossa sociedade, sendo a mídia, com todo o seu poder persuasivo e sempre a favor do capital, uma das grandes mediadoras e responsáveis pelo reforço dessa ideia, que é materializada em discursos e propagandas e difundida nos diferentes meios de comunicação. 

Lendo e refletindo mais criticamente sobre as imagens e discursos das propagandas de cursinhos pré-vestibular e instituições de ensino em geral, percebe-se que valores como o sucesso, um bom emprego, uma vida financeiramente estável, reconhecimento e status são constantemente ofertados e garantidos nessas imagens e discursos, o que mostra que, além das instituições venderem suas marcas, elas vendem também o sonho e o imaginário para toda a sociedade. 

Antigamente, com um número menor de opções de cursos, a escolha da profissão se dava, penso, por três determinantes: vocacional, cultural e circunstancial. Vê-se, entretanto, que atualmente além desses três determinantes há também o fator mercado, que visa o conhecimento útil aplicado ao emprego imediato, à geração de lucro e ao próprio mercado de trabalho. 

Em se falando de mercado de trabalho, é notório que este vem se modificando e expandindo, exigindo, a cada dia, mais preparação dos indivíduos. Com o desenvolvimento do mercado e do país, cursos são criados, muitas vezes às pressas, para atender às demandas e às necessidades específicas de cada setor, o que é favorável às novas pesquisas e ao desenvolvimento do país. Assim, cursos em alta e profissões que são tendência vendem a ideia de uma vida bem-sucedida, de emprego rápido e garantido e de tudo que um diploma pode trazer. 

Embora novos cursos sejam criados visando um novo mercado, um novo ramo, um novo profissional, o que se espera desses cursos, no final das contas, não é tão novo assim: um bom e estável emprego, status e uma carreira bem-sucedida. O sucesso tão desejado estaria na continuidade dos projetos de vida idealizados romanticamente de forma simplista e conservadora. Ter sucesso, então, é continuar fazendo o que sempre deu certo: as mesmas escolas, os mesmos cursos e as mesmas profissões. O sucesso gera dinheiro, que gera consumo, que, por sua vez, gera felicidade e bem-estar. 

A universidade tem o seu papel de contribuir para a sociedade e seu desenvolvimento, mas ela está além de formar mão de obra para o mercado. Mais que abrir instituições de ensino e cursos novos é necessário garantir a todos uma educação de qualidade, em que o conhecimento seja visto como uma relação entre indivíduo e sociedade, e não apenas como ferramenta útil, aplicável. 

Embora inserida em um contexto caracterizado por diversidade cultural, econômica e social, a educação deve ser a todo tempo pensada, para não deixar que o seu papel social - de formação do ser humano, de exercício crítico e de coletividade - seja encoberto pela necessidade desenfreada da formação de mão de obra para atender o mercado, de economia cada vez mais competitiva e interdependente. 

Independentemente do curso, instituição ou motivação profissional, o que se espera das instituições é que formem profissionais de verdade, profissionais éticos, cidadãos críticos e políticos, comprometidos com a sociedade, mas essa é uma ideia que ainda não é tendência na mídia, e, por isso, talvez esteja em baixa, ou em falta. 

Paula Rafael G. Valelongo é formada em Letras: Português-Inglês e mestranda em Educação pela Universidade de Sorocaba. E-mail: paulargvalelongo@hotmail.com

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