Publicado: Quarta, 04 Dezembro 2013 15:26
  Fonte: CEDAF - UFV
  Link: http://www.cedaf.ufv.br/sites/detalhesNoticia/41/229

 

Há uma visão geral de que grandes nações têm grandes universidades. Isso motiva o investimento público e privado significativo (tanto financeiro quanto político) nas universidades. Infelizmente, hoje em dia a maior parte do foco está em universidades que promovam o crescimento econômico. No entanto, creio que igualmente importantes são as contribuições que as universidades podem dar à cultura, à estabilidade política e à mudança social positiva.

 

Aparte: Muito dessa discussão assume uma causalidade: universidades fortes produzem nações poderosas. No entanto, acho que é preciso ter cuidado aqui. Às vezes pode-se ter correlação sem causalidade. Por exemplo, países ricos usam sua riqueza para construir excelentes universidades.

 

O principal objetivo deste post é fazer duas afirmações ousadas. Para nenhuma delas tenho evidência empírica, mas acho que vale a pena discutir.

 

Primeiro, algumas definições. Em todos os países, a qualidade das instituições diminui com sua posição em um certo ranking. Em diferentes países, a qualidade decai em taxas diferentes. Aproximadamente, essa taxa de decaimento diminui da Índia para a Austrália para os EUA. A seguir, vou distinguir entre instituições de primeira e segunda linha. Não está claro como definir o limite exato. Aproximadamente o número de instituições de 1a linha não seria maior que 50, 10 e10 para os EUA, Índia e Austrália, respectivamente. Não vamos entrar em debate sobre quão grande é este número.

 

Eis aqui as afirmações:

 

1. As instituições-chave para a construção de uma nação não são as de primeira linha, mas as de segunda linha.

 

2. Tornar instituições de segunda linha eficaz é muito mais desafiador do que tornar instituições de primeira linha eficaz.

 

Deixe-me discorrer e justificar cada afirmação.1. As grandes nações não são apenas construídas por cientistas, escritores e empresários brilhantes. Ao contrário, elas também necessitam de profissionais eficientes como professores do ensino médio e fundamental, engenheiros, proprietários de pequenas empresas, etc. Além disso, são necessários cidadãos bem informados e pensadores críticos engajados na política e nas comunidades. As melhores universidades estão cheias de professores e estudantes altamente talentosos e motivados. A maioria seria produtiva e bem sucedida independentemente de edifícios extravagantes ou altos salários. Os melhores alunos vão aprender muito independentemente da qualidade do ensino.

Não há necessidade de ensiná-los a escrever um ensaio ou a pensar criticamente. Por outro lado, professores e alunos de instituições de segunda linha requerem significativamente mais estímulo e desenvolvimento.

 

2. Nas instituições de primeira linha, governos (ou administradores privados) só precisam fornecer uma certa quantidade mínima de recursos e sair do caminho. No entanto, o jogo é completamente diferente nas instituições de segunda linha. Muitos são caracterizados pela forma sem substância. Para ser concreto, você pode propor cursos com perfis impressionantes, apontar textos importantes, dar aulas, e ter cerimônias de formatura extravagantes, mas no final os alunos realmente aprendem pouco. Esta realidade dolorosa é acobertada por exames e notas suaves. O foco é na aprendizagem mecânica, não no pensamento crítico. Professores podem fazer pesquisa no sentido de obter subsídios, alunos de pós-graduação e publicar artigos. No entanto, a "pesquisa" e os alunos formados são de tão baixa qualidade que pouco contribuem para a nação. O problema é acentuado pelo fato de que muitas dessas instituições não querem enfrentar a dura realidade da baixa qualidade de seus alunos de entrada. Simplesmente, elas não ajustam suas missões e programas em conformidade. Apenas tentam imitar as instituições de primeira linha. A reforma dessas instituições é particularmente difícil porque eles são, em grande parte, controladas por administradores de carreira que não têm nenhuma experiência real ou interesse algum em ensino ou pesquisa. Em vez disso, eles estão obcecados com rankings, métricas, reorganizações, prédios, dinheiro, e, em particular, suas próprias carreiras.

 

Creio que essas preocupações são aplicáveis a países tão diversos como os EUA, Austrália e Índia. Para uma perspectiva sobre este último, há um artigo interessante de Sabyasachi Bhattacharya Indian Science Today: An Indigenously Crafted Crisis. Ele foi diretor recente do Instituto Tata de Pesquisa Fundamental. Eu também achei útil um ensaio da Physics World de Shiraz Minwalla.

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