Publicado: Terça, 19 Novembro 2013 07:13
  Autor: RAFAEL BARIFOUSE
  Fonte: Portal Revista Época

 

Com a Minerva, o empresário americano lança um novo modelo de ensino superior: sem prédios, apenas com turmas on-line e o cenário das metrópoles como salas de aula

 

 

 

 

INOVAÇÃO Ben Nelson, fundador da Minerva. Ele quer oferecer ensino de alta qualidade pela metade do preço (Foto: Divulgação)

 


Ben Nelson, fundador da Minerva. Ele quer oferecer ensino de alta qualidade pela metade do preço (Foto: Divulgação)

 

As dez melhores universidades americanas surgiram há mais de 100 anos. O economista Ben Nelson, de 38, acredita que mudará essa história com a Minerva. Segundo ele, sua universidade terá a mesma qualidade das principais do país, pela metade do preço. Por isso, não terá umcampus. As aulas teóricas serão on-line. As práticas acontecerão em locais como museus e indústrias, nas maiores cidades de sete países – oBrasilentre eles. Os alunos, do mundo inteiro, viajarão e viverão nessas cidades ao longo do curso. Nelson cercou-se de nomes de prestígio e investidores respeitáveis. Stephen Kosslyn, que dirigiu os departamentos de psicologia e comportamento de Harvard e Stanford, é o reitor. 

 

 

 

 

Larry Summers, ex-presidente da Harvard e ex-secretário do Tesouro dosEstados Unidos, está no conselho, ao lado do colega e ex-senador Bob Kerrey. Nelson, que esteve à frente do serviço de hospedagem de fotos Snapfish, vendido por US$ 400 milhões para a HP em 2004, conseguiu US$ 25 milhões com os mesmos investidores de sites como eBay e a rede social Twitter. O primeiro passo para provar que sua meta é possível foi dado. As inscrições para a turma inaugural da Minerva, cujas aulas começarão em setembro de 2014, acabam de ser abertas, com a adesão de brasileiros. Nesta entrevista a ÉPOCA, Nelson explica como funcionará a Minerva e como ela pode superar suas rivais.

 

ÉPOCA – Como o senhor teve a ideia de criar a Minerva?
Ben Nelson –
Foi há 20 anos, quando entrei na Universidade da Pensilvânia. Estudei sobre a história das universidades e vi que sua missão era formar líderes, ao ensiná-los a pensar crítica e amplamente. Não era mais assim na minha época. Criei então um plano de reforma para a universidade. Hoje é o coração da Minerva. Queremos criar a melhor universidade do mundo ao resgatar os princípios básicos do ensino superior. Também serviremos a mais gente que as universidades de elite, em que 99% dos alunos são americanos. Não importa de onde o aluno vem, quem são seus pais ou se ele é bom em esportes. Ele pode ser um líder.

 

ÉPOCA – Isso quer dizer que o ensino atual não funciona?
Nelson –
Pode não funcionar. Depende do aluno. Há quem tenha uma ótimaeducação, porque cria metas e busca disciplinas para abrir a mente. Outros só aprendem sobre sua área e não vão além. Podemos fazer melhor, ao garantir o máximo de exposição não só ao conteúdo acadêmico, mas ao que existe ao redor dos alunos, que viverão nos maiores centros políticos, culturais e econômicos do mundo. As aulas tomarão de 12 a 15 horas por semana, durante 30 semanas por ano, ao longo de quatro anos. É uma parte muito pequena do tempo total de curso. Se tivéssemos só aulas, seria um desserviço aos estudantes.

 

ÉPOCA – Como será o sistema de ensino da Minerva?
Nelson –
Não teremos um campus. Todas as aulas serão on-line, com no máximo de 19 alunos por sala. Não será preciso pagar por material nem assistir a aulas introdutórias, porque esse conhecimento pode ser adquirido gratuitamente com livros e cursos on-line. Quando chegarem à Minerva, eles terão essa base. No 1º ano, desenvolverão habilidades de busca e análise de informações e comunicação. A inovação não está em ensinar isso, mas em aplicar esse conhecimento às outras aulas. O professor não avaliará só o aprendizado em sua aula, mas também como foram usadas as habilidades adquiridas no 1o ano com a ajuda da tecnologia. Se eu tiver dificuldades com minhas habilidades analíticas na aula de biologia, o professor identificará isso, ao rever gravações das aulas, com um software capaz de sugerir como melhorar o desempenho. Se a aula em questão tiver uma pergunta que envolva análise, o professor saberá que deverá fazê-la a mim. Isso não acontece num ambiente off-line, com 30 cursos desconectados, em que os professores não têm a menor ideia do que os alunos aprenderam antes.

 

"Nossos alunos viverão nos países que moldarão o mundo neste século. O Brasil é um deles"

ÉPOCA – Como será a experiência fora da classe?
Nelson –
No 1º ano, os alunos viverão em San Francisco, sede da Minerva. Depois, ao longo dos outros seis semestres, irão em grupos de 150 estudantes para cidades de seis países, onde teremos dormitórios. Eles terão estágios e atividades monitoradas por nossa equipe de ensino. Verão como funcionam a economia, a política, a cultura desse lugar. Seja qual for o interesse profissional do aluno, ele pode aprender em primeira mão. A cidade será nossocampus.

 

ÉPOCA – E os cursos que dependem de laboratórios, como engenharia ou química?
Nelson –
Muito do ensino em laboratórios pode ser reproduzido por meio de simulações de computador. Depois, os alunos poderão reproduzi-los nos laboratórios onde nossos professores trabalham em seus projetos de pesquisa e naqueles de nossos institutos e empresas parceiras, como o Keck Graduate Institute, uma instituição científica americana de prestígio.

 

ÉPOCA – O Brasil está em seus planos?
Nelson –
Ainda avaliamos seSão Paulo,Rio de Janeiro, ou ambas. Mas o Brasil é uma certeza, porque é um centro político e econômico do mundo, além de ter uma cultura extraordinária. Queremos que os alunos sejam expostos às culturas que moldarão o mundo neste século. O Brasil é um desses lugares.

 

ÉPOCA – Os alunos estarão dispostos a ser os primeiros de um modelo de ensino não testado?
Nelson –
É verdade que não há muitos com visão e coragem de participar de algo que parece ser ótimo, mas é novo. Esperamos que, diante do que oferecemos, sejamos a única opção para quem tem espírito empreendedor e quer conhecer o mundo. A primeira turma ajudará a criar a universidade. Serão os pioneiros. Viverão uma grande experiência, mas deverão ter inteligência, maturidade para fazer dar certo. A turma inaugural, prevista para setembro de 2014, será menor, de 19 alunos. Um ano depois, virá a primeira classe completa, com 250 alunos. Não seremos a melhor opção para todos. Muitos olharão para Harvard e Stanford e as considerarão melhores, por preferir passar quatro anos numcampustradicional.

 

ÉPOCA – A Minerva custará metade dos US$ 50 mil por ano cobrados por universidades de elite. Por que será tão mais barata?
Nelson –
Parte da razão é a ausência de campus. É tolice pagar por gramados perfeitos, grandes prédios e salas que muitos alunos nem usam. Também removemos custos sem sentido, como uma equipe de esporte. Esse tipo de programa custa até US$ 10 mil ao ano por aluno. Se quiser, ele pode comprar um ingresso de US$ 200 para ver uma partida onde vive ou se exercitar num parque. Por fim, hoje o ensino superior subsidia a pesquisa. Pesquisar é importante, mas os professores devem fazer isso com bolsas, em vez de ser financiados por alunos de 18 anos.

 

ÉPOCA – Mas professores de qualidade custam caro. Como equacionar isso com o baixo custo?
Nelson –
Tiramos os custos que não fazem sentido, mas não subinvestimos naquilo que os alunos buscam: ensino de qualidade. A Minerva não é grátis. Os alunos ainda pagarão um valor significativo, porque ofereceremos os melhores professores do mundo e um ensino personalizado.

 

ÉPOCA – Qual o perfil desse professor?
Nelson –
A universidade atual não abriga alguns tipos de bons professores. Há muitos altamente qualificados entre os recém-formados, mas eles disputam poucas vagas. Também há professores que se aposentam em torno dos 60 anos, mas ainda têm décadas produtivas à frente. Como as aulas são on-line, podemos ter professores em qualquer parte do mundo.

 

ÉPOCA – Críticos dizem que a Minerva é apenas uma boa ideia que não irá em frente. Como o senhor reage a isso?
Nelson –
As pessoas deveriam mesmo estar céticas. Estamos criando algo novo que não é tentado nos Estados Unidos há mais de 100 anos. Seria mais preocupante se começássemos as aulas amanhã. Não comprometeremos a qualidade em nome da rapidez. As pessoas com quem nos associamos devem tranquilizar os céticos. Elas têm décadas de experiência, conhecem bem o ensino superior e podem validar minha proposta. Com eles, ganho credibilidade e tenho quem me diga se estou fazendo algo errado.

 

ÉPOCA – Os US$ 25 milhões obtidos até agora com investidores serão suficientes?
Nelson –
É suficiente para começar. Mas queremos levantar o necessário para ser autossustentáveis. Mesmo se tivermos alunos matriculados, professores contratados e a permissão para ensinar, não lançaremos o projeto sem o dinheiro para garantir que formaremos cada estudante. Precisamos levantar mais US$ 36 milhões. Tem havido tanto interesse em torno da Minerva que acredito ser possível conseguir mais que isso. 

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