Publicado: Quarta, 31 Julho 2013 14:28
  Autor: Robson Braga de Andrade
  Fonte: Clipping do Ministério do Planejamento

Os países mais bem posicionados nos rankings de competitividade são diferentes entre si, mas têm alguns pontos em comum. O principal é o bom nível educacional de suas populações. Alguns, como Coreia do Sul e Irlanda, fizeram uma revolução no ensino na última geração, com nítidos reflexos no potencial de crescimento sustentado de suas economias. O Brasil nunca será plenamente desenvolvido se não investir de forma consistente e duradoura na educação de crianças e jovens. Isso não se fará só com mais dinheiro, mas também com a melhora da qualidade das aulas, da gestão escolar e do material didático, além da valorização dos professores.


É preciso apostar na educação de qualidade, não só pelo fato óbvio de que, sem ela, a cidadania integral é impossível, e seu exercício se limita a manifestações como o voto a cada dois ou quatro anos. O tema deve ser uma obsessão nacional também porque, na ausência de uma população capaz de entender, se adaptar e propor soluções para os problemas postos pelas cada vez mais complexas relações econômicas, o crescimento tem fôlego curto. A economia contemporânea exige preparo intelectual, criatividade e inovação, especialmente para superar os efeitos da crise global que ainda persistem.

A qualidade da educação brasileira é um dos mais sérios obstáculos ao aumento da produtividade dos nossos trabalhadores e à adoção de práticas inovadoras pelas empresas. Com o esforço de sucessivos governos e da iniciativa privada, o ensino básico já alcança 97% das crianças entre 7 e 14 anos de idade e 83,3% dos jovens de 15 a 17 anos. A taxa de conclusão, entretanto, é menor: 63,4% dos que têm 16 anos finalizaram o ensino fundamental em 2011 e metade dos jovens de 19 anos terminou o ensino médio. Os dados são da organização Todos pela Educação.

A escolaridade média da população de 15 anos ou mais aumentou de 6,4 para 7,5 anos entre 2000 e 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas continuamos com uma média de anos de estudo abaixo de países como China, México e Malásia. Isso se reflete na qualificação da mão de obra da indústria nacional. De acordo com o Ministério do Trabalho, cerca de 20% dos trabalhadores industriais não possuem o ensino fundamental completo, e 45% não concluíram o ensino médio. Esses níveis de preparo são insuficientes para um setor que moderniza constantemente suas máquinas e equipamentos.

Outro problema é a qualidade da educação regular brasileira, que não condiz com o volume de recursos investidos. Nesse campo, as estatísticas mostram que ainda temos um caminho grande a percorrer. O país aplica 5,7% do Produto Interno Bruto (PIB), número semelhante ao de Holanda, França e Estados Unidos, por exemplo. Mas ocupamos a 54ª colocação no último Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), enquanto os holandeses ficam na 9ª; os franceses, na 25ª; e os norte-americanos, na 26ª. Em matemática, o desempenho é pior: 57º lugar. As primeiras posições no Pisa são alternadas entre Finlândia, Hong Kong, Coreia e China.

Segundo o Ministério da Educação, 42% dos alunos brasileiros do 3º ano do ensino médio apresentam dificuldades de leitura e de interpretação de textos e 67,4% mal entendem os problemas matemáticos propostos. A evolução nessa área se dá devagar. Por isso, é preciso aperfeiçoar as ações educacionais já. Quanto antes melhorarmos a qualidade da educação, mais cedo poderemos obter bons resultados, consolidando um caminho seguro para a melhora da competitividade da nossa economia, para o nosso aperfeiçoamento institucional e democrático, e para o desenvolvimento do país.

Atento a essa necessidade, o setor industrial identificou a educação como um dos 10 fatores-chaves para garantir a competitividade na próxima década. Não à toa, o tema é o primeiro a ser desenvolvido no Mapa Estratégico da Indústria 2013-2022. Nele, colocamos como meta para a sociedade brasileira elevar a posição do país no ranking do Pisa da 54ª para a 43ª em 2021. Para isso, serão necessárias ações como: ampliar e cumprir a jornada escolar; fortalecer o ensino de português, matemática e ciências; qualificar professores e diretores de escolas públicas; disponibilizar práticas pedagógicas inovadoras; e aproximar o ensino do mundo do trabalho e das famílias.

O Brasil tem uma capacidade de reação proporcional ao tamanho de seus problemas. Por isso, estou seguro de que conseguiremos fazer da educação nacional uma fonte de expansão da nossa competitividade.

*Empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
Correio Brasiliense 

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