Publicado: Quinta, 25 Julho 2013 12:59
  Autor: Nelson Pretto
  Fonte: Jornal da Ciência

Mais de 2 milhões de brasileiros manifestaram-se nas ruas no último mês junho. O que queriam? Fale-se, com certa ironia, de não objetividade nas revindicações, no excesso de bandeiras e na falta de lideranças.


Nem sempre é necessário ter clareza ou unificar bandeiras de luta. A falta de "objetividade" foi sempre motivo de estranhamento de muitos acadêmicos, da mídia e, por consequência ou não, da população em geral.

Lembro que foi assim também com o Fórum Social Mundial (FSM) desde 2001, quando protestava contra tudo e todos. Havia uma sensação generalizada - que aliás, é a mesma de hoje - de que tudo estava para ser resolvido e uma forma de desqualificar aquelas iniciativas era dizer que faltava foco e objetividade nas propostas. Lembro, em 2001, quando Eduardo Galeano iniciava uma de suas falas com a frase encontrada em um muro na Bolívia: "quando achamos as respostas, mudaram a pergunta".

É o que de novo ocorre no país e no mundo. Os métodos, as práticas, a política, a economia, tudo está a merecer um outro olhar. Não temos ainda as respostas, pois a pergunta mudou!

As bandeiras eram muitas: "gosto de mulher, e daí?", "abaixo a fifa", "não é pelos 0,20", "passe livre, "mais educação"... Cobrar objetividade é matar o movimento. Objetividade é algo que foi construído ao longo da história da humanidade e não é um conceito absoluto desde sempre. A multiplicidade de bandeiras corresponde à rica diversividade da população e da política brasileira e governar é justo tratar destas diferenças.

Essa geração, de qualquer idade, com uma dezena de telas abertas ao mesmo tempo, usando as teclas alt+tab para navegar simultaneamente em todas elas, está, agora e literalmente, navegando pelas ruas das cidades com a mesma intimidade com que navegam pelas telas.

"Saímos do Facebook", dizia um cartaz. Estamos na rua, complemento. Na rua com os facebooks, orkuts, twitters, instagrams e tudo mais.

Não sejamos simplistas. O momento atual é complexo, como também o é a vida.

E complexo não é sinônimo de complicado. A complexidade exige um olhar, ou melhor, múltiplos olhares, com rigorosa atenção.

Educação, claro, está entre as bandeiras. Mas que educação?!

Certamente precisamos de mais recursos para a educação, mas não apenas para fazer mais do mesmo. É urgente que superemos definitivamente as atuais concepções de educação que formam para a linearidade e não para a complexidade.

E isso não é pouco.

Artigo de Nelson Pretto* publicado em A Tarde, Revista Muito!

*Nelson Pretto é professor da Faculdade de Educação da UFBA e secretário regional da SBPC-Bahia

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