Publicado: Sábado, 06 Julho 2013 14:02
  Fonte: Exame - São Paulo

O Blog EXAME Brasil no Mundo conversou com Priscila Simões, gestora do Instituto Expertise, que organiza em parceria com as melhores universidades americanas, uma série de eventos para a preparação dos gestores das universidades brasileiras, e um dos grandes temas é a inovação no ensino superior.

Com o crescente na demanda educacional brasileira, e principalmente na grande necessidade de mão de obra qualificada, as universidades brasileiras precisam de uma nova postura, principalmente em programas inovadores e conectados com o mercado.

Brasil no Mundo: Inovação é um tema ainda difícil ainda no Brasil. E quando falamos em educação, o tema tem um desafio maior. Como as universidades brasileiras hoje encaram a inovação e o ensino da mesma?

Priscila Simões: Existem pelo menos 3 facetas para analisarmos o tema da inovação em uma instituição de ensino. Podemos pensar a perspectiva da gestão da própria instituição, ou seja, as universidades têm uma estrutura de gestão inovadora? A segunda perspectiva diz respeito à inovação no processo de ensino-aprendizagem. Ou seja, estamos ensinando de forma inovadora, de forma a potencializar a aprendizagem dos alunos? Ou apenas transmitimos conteúdos a serem memorizados pelos estudantes? E finalmente temos que analisar também a formação de pessoas e profissionais inovadores. Ou seja, até que ponto as universidades estão conseguindo formar pessoas que irão inovar em seus campos de atuação?

Infelizmente podemos observar que nas três perspectivas as instituições de ensino superior no Brasil ainda têm um longo caminho a percorrer. A atuação do Instituto Expertise está voltada a capacitar líderes acadêmicos e professores no que se refere, principalmente, aos dois primeiros aspectos em relação à inovação. Acreditamos que ao ter universidades com uma gestão inovadora e também processos de ensino inovadores, o caminho estará pavimentado para a formação de profissionais inovadores.

Brasil no Mundo: O instituto suíço IMD divulgou o ranking de 2013 dos países mais competitivos, e o Brasil caiu mais algumas posições, de 46 para 51 em competitividade. Um reflexo claro de problemas de inovação, educação e formação de mão de obra qualificada. Como as universidades estão encarando o desafio de formar mão de obra qualificada? Que estratégias as mesmas estão utilizando?

Priscila Simões: A discussão sobre inovação no ensino ainda é muito recente no Brasil. Na Educação Básica, até pouco tempo atrás, estávamos ainda preocupados com os altos índices de analfabetismo. Depois passamos um bom tempo preocupados em ter escolas suficientes para a população em idade escolar. Conseguimos universalizar o ensino básico apenas na década passada. Isso tudo acaba tendo reflexo no ensino superior também. Nós tínhamos um ensino superior altamente elitizado, com índices ridículos de população universitária quando comparados com vários outros países. O ensino superior brasileiro começou um processo forte de expansão após a Lei de Diretrizes e Bases de 1996. Havia uma demanda reprimida enorme de pessoas que queriam uma formação universitária, mas não tinham acesso. Então no final da década de 90 e início dos anos 2000 nós ampliamos muito a quantidade de instituições, cursos e alunos matriculados. 

Estamos começando agora no ensino superior brasileiro um processo de massificação e, juntamente com ele, começando a discutir a qualidade dos cursos e instituições. Essa expansão no Brasil se deu principalmente pela iniciativa privada porque o modelo de universidade pública que temos é caríssimo e portanto inviável de ser expandido a ponto de atender a demanda necessária. A meu ver o MEC, com seu aparato regulatório, não está conseguindo induzir um processo de aumento de qualidade nas instituições de ensino superior. 

Precisaríamos ter mais flexibilidade e diversidade para atender as demandas em termos de formação de um país grande e diverso como o Brasil, mas o MEC induz a todos fazerem o mesmo da mesma forma. E freqüentemente as instituições de ensino ficam mais preocupadas em atender as demandas regulatórias impostas pelo Ministério da Educação do que em discutir efetivamente a qualidade de seus cursos, professores e dos profissionais que estão formando. Mas claro que isso não significa que não haja inovação. Existem experiências interessantes (tanto no setor público quanto no privado) em termos de inovação no currículo e também em processos de ensino e aprendizagem. Mas são exceções.

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