Publicado: Segunda, 01 Julho 2013 13:33
  Fonte: Mercado Ético

Ser um cidadão autônomo, capaz de selecionar informações do seu interesse e ser ator do seu próprio conhecimento, parece algo óbvio num mundo permeado por tecnologias e conteúdos midiáticos dos mais diversos gêneros.


No entanto, segundo dados mais recentes do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf), calculado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela organização não-governamental Ação Educativa, apenas um em cada quatro brasileiros de 15 a 64 anos de idade tem domínio pleno de habilidades básicas de leitura, escrita e matemática. Para entender melhor os critérios do Inaf, leia as páginas 70 e 71 do Anuário Brasileiro da Educação Básica.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 8,6% da população do País – ou seja, 12,9 milhões de pessoas – não têm uma vida com autonomia porque são analfabetas. O IBGE considera analfabeta a pessoa que declara não saber ler e escrever um bilhete simples no idioma que conhece ou aquela que aprendeu a ler e escrever, mas esqueceu, ou, ainda, a que apenas assina o nome.

Seja qual for a forma de medir, os especialistas são unânimes: para viver em sociedade, o indivíduo depende do domínio de aptidões de leitura e escrita. E esse domínio é um direito de aprendizagem que deve pautar o ensino desde os primeiros anos da Educação Básica. No entanto, os dados da Prova ABC 2012 mostram que o Brasil ainda está longe de atingir índices aceitáveis: menos da metade – 44,5% – dos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental tem a proficiência considerada adequada em leitura.

“Uma alfabetização não plena é o primeiro e o maior insucesso da vida escolar de uma criança”, afirma Maria Luiza Moreira, docente do curso de Pedagogia da Uniritter e professora alfabetizadora aposentada da rede municipal de Porto Alegre (RS). “Na outra ponta, um aluno de EJA (Educação de Jovens e Adultos) é aquele que teve uma vida toda de exclusão, de falta de autonomia, até decidir procurar o curso.”

Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita, destaca que as diferentes plataformas midiáticas nas quais diferentes textos e informações estão disponíveis no mundo de hoje, podem dificultar ainda mais a vida de um analfabeto pleno ou funcional. “Os prejuízos (de não saber ler e escrever) para a cidadania são enormes. Atualmente, temos uma cultura de diversas formas de leitura e escrita, com textos impressos e digitais”, afirma ela. “É preciso saber ler para estudar, para buscar informações e também para informar.”

Prejuízos

Segundo Maria Luiza, a autoestima de jovens e adultos que não foram plenamente alfabetizados é prejudicada desde os primeiros anos da Educação Básica. “A maior parte dos meninos e meninas que não se alfabetizam tornam-se desmotivados e até agressivos em sala de aula”, explica Maria Luiza. “Isso culmina, mais tarde, na resistência que muitos têm para se matricular na EJA.”

A professora conta que muitos alunos acabam abandonando o curso exatamente no momento em que começam a compreender a escrita como sistema de representação da linguagem. “Justamente na fase em que uma criança comemora por estar dando sentido às primeiras palavras é quando um adulto que está se alfabetizando desiste. Isso porque, ao começar a escrever, eles se dão conta da extensão do conhecimento que não adquiriram”, relata a especialista. “Assim, acabam arranjando uma desculpa e desaparecem.”

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