Publicado: Sexta, 21 Junho 2013 13:12
  Autor: Teresa Cristina Jordão
  Fonte: ABMES

Lembro-me que em meados dos anos 90, ao ministrar cursos de formação de professores, sempre utilizava um texto para iniciar nossas reflexões, chamado “É preciso afiar o machado”, de autor desconhecido.


O texto conta um episódio ocorrido com um homem que foi contratado para cortar lenha e no primeiro dia recebeu um machado novo e afiado. Sua produção começou acima das metas estabelecidas pelo chefe, porém, a partir do segundo dia de trabalho, começou a diminuir gradativamente. O chefe, preocupado com os resultados, foi averiguar o que estava acontecendo e notou que o empregado estava trabalhando além de seu horário e empregando toda a sua energia e foco na realização de sua tarefa. Intrigado, o chefe perguntou ao empregado: “Você se lembrou de afiar o seu machado?” E a resposta foi que estava tão ocupado em realizar a tarefa, que esqueceu de afiar o seu machado.

A reflexão que gostaria de propor aos gestores de educação é justamente sobre a necessidade de proporcionar aos professores, momentos para que parem o que estão fazendo e repense sua prática, aprimorem suas estratégias, revejam os recursos utilizados, se aperfeiçoem no uso de algumas ferramentas, enfim, que possam “afiar seu machado” de tempos em tempos, para que seu trabalho continue produtivo e traga resultados positivos para a educação.

Muito se tem investido em tecnologias inovadoras, tais como os tablets, que estão levando mobilidade para as escolas. Fantástico! Excelente! Porém, o que a mobilidade traz de benefícios para a educação? Quais são os desafios enfrentados pelos professores com a implantação do uso dos dispositivos móveis na escola? Os professores estão preparados para repensar o modelo de aula que comporta o uso dos tablets e smartphones?

Estas perguntas e diversas outras trazem à tona a grande questão: estamos investindo o suficiente na formação dos professores para que utilizem os recursos tecnológicos como seus aliados em sua missão de ensinar?

Indo além, os professores estão se preparando para solicitar aos seus alunos que sejam autores de conhecimento? Que produzam conteúdos que poderão ser úteis para outras pessoas? Estes alunos estão sendo motivados a trabalhar de forma colaborativa e a produzir algo que gere impacto positivo na sua escola ou comunidade?

Dizia Paulo Freire (1991) que o tempo da escola precisa ser muito bem aproveitado: pelo aluno como pesquisador, autônomo e autor de conhecimento; e pelo professor como aquele que se encontra em formação e reflexão permanente e praticando a observação atenta das necessidades dos seus alunos.

Sabemos que muitas são as iniciativas de formação de professores para que repense sua prática e para que integrem os recursos tecnológicos de forma a apoiar suas aulas, porém também sabemos que estas formações não alcançam a imensa quantidade de professores que temos no Brasil, tanto no setor privado, quanto no setor público.

Então, quando os gestores de escolas me perguntam se deveriam investir em tablets ou em lousas digitais, minha resposta é sempre a mesma: sim devem, desde que exista uma proposta pedagógica, muito bem desenhada, de inserção de tais recursos no dia a dia da escola. Desde que os professores sejam envolvidos neste processo de planejamento e que a formação destes professores seja permanente. Além disto, que durante a formação, possam aplicar os conceitos vistos em atividades práticas com os alunos. Que tenham espaços de reflexão sobre as lições aprendidas e que possam compartilhar suas experiências com outros professores.

Dispositivos existem diversos no mercado, conteúdos disponíveis (objetos de aprendizagem, jogos, mapas, infográficos, vídeos, áudios etc), uma enorme quantidade, porém, a grande questão é: Como utilizar tais recursos para que melhorem o processo de ensino e aprendizagem e ampliem as possibilidades de produção de conhecimento pelos alunos? É neste ponto que precisamos focar nossa atenção e investir nossa energia e recursos.

Tudo isto então reforça o quanto aquele texto utilizado a quase 20 anos atrás, continua fazendo todo o sentido para que a educação que desejamos seja possível: Vamos tratar de “afiar nosso machado sempre”! 

* doutora em Educação pela USP e mestre em Educação, Arte e História da Cultura pelo Mackenzie. É docente no ensino superior e gestora da empresa TIC Educa onde desenvolveu modelos testados e validados de formação de professores para o planejamento de aulas interativas e inovadoras com o apoio das tecnologias digitais.

Teresa Cristina Jordão - atua com formação de professores há quase 20 anos, em ações nos diversos estados brasileiros.

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