Publicado: Segunda, 04 Março 2013 07:21
  Fonte: O Globo Online

Thayanne Alves, 19 anos, entra em um helicóptero e sobrevoa o oceano. Em meio ao barulho das hélices, ela desembarca em uma plataforma de petróleo em alto mar. Sobe e desce escadas, abre portas, controla painéis, verifica o funcionamento de válvulas. Mas tudo acontece entre três paredes, no simulador do curso técnico em Petróleo e Gás que ela faz no Senai, em Benfica. Com projeções em quatro telas – três ao redor e uma no solo – e óculos 3D, o programa de simulação cria ambientes e situações similares às reais.

— A simulação possibilita o acesso a informação que o estudante teria somente em uma tela ou imagem. No simulador, ele interage, verifica as consequências de suas ações. Ele desliga efetivamente chaves no painel — diz Bruno Gomes, assessor de Tecnologias Educacionais do Senai-RJ.

— É muito real mesmo. Sinto que estou preparada para entrar em uma plataforma de verdade — afirma Thayanne. O colega Bryan Rosa Santos, 19 anos, completa: – A gente interage com todas as áreas da plataforma. É possível ver equipamentos submersos.

Simulações são uma tecnologia cada vez mais presente em cursos superiores e de capacitação profissional. Oferecerem menos custo e mais segurança – substituem visitas a locais com alta periculosidade –, possibilitam criar diversas situações-problema para os alunos e fixam o conteúdo, aprendido na prática. Uma análise do NMC (New Media Consortium), comunidade internacional de especialistas em tecnologia educacional, para o período de 2012-2017, apontou a aprendizagem baseada em jogos e simulações com uma tendência a ser implantada entre dois e três anos no ensino superior latino-americano.

“Presidentes”

Na disciplina de Inovação do cursos de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), os alunos atuam como CEOs de uma grande empresa do ramo de baterias por oito anos, em apenas algumas semanas. Uma plataforma da universidade norte-americana Harvard e adaptada para economias emergentes coloca os estudantes diante de um dilema: permanecer com a tecnologia existente, rentável por um tempo incerto, ou inovar e forçar a empresa a mudar para uma tecnologia mais atual e competitiva, mas que exige investimentos a longo prazo.

Preços dos produto no mercado, market share, salários de funcionários tudo é decidido pelo aluno, que recebe informações sobre o cenário macroeconomico, industrial e corporativo. A cada ano, o simulador entrega os resultados para os jogadores. Se a escolha feita gerar queda contínua em lucro ou vendas, o estudante é “demitido”.

— O aluno é colocado realmente na situação que os executivos vivem hoje: permanecer na tecnologia que dá rentabilidade ou investir? — destaca Paulo Figueredo, professor de Inovação que trouxe a tecnologia para a FGV-RJ.

— No início utilizei estratégias mais conservadoras que não me permitiam o sucesso pleno. Ao final do curso, pude terminar o jogo com êxito. O simulador me deixou empolgado para tomar decisões corretas a favor de inovação — relata Diego Brezka, 23 anos, administrador de empresas formado pela FGV no ano passado. O colega Daniel Vasconcelos, 21 anos, também gostou da experiência:

— Obtive um resultado razoável no jogo. Preferi apostar em inovação desde o início e passei por momentos com ótimos resultados e outros mais complicados nos quais tive que “suar” para recuperar o bom rendimento e reverter a situação.

A Universidade Estácio de Sá trabalha no desenvolvimento de um aplicativo de celular voltado para o curso de Gastronomia, que simulará a abertura de um restaurante. O futuro chefe irá escolher onde abrirá seu estabelecimento, qual tipo de comida irá servir, os preços, fornecedores e o aplicativo dirá se será bem sucedido.

— Se o estudante quiser atingir classe A, por exemplo, não poderá escolher um local perto de metrô ou dentro de um shopping. O simulador dará uma visão de negócio para o aluno — Roberto Paes, diretor da Fábrica do Conhecimento da Estácio, setor da universidade que desenvolve tecnologias educacionais próprias.

Fábrica de games

Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os estudantes do curso de Engenharia da Computação contam com um conjunto de laboratórios que reproduz o ambiente de uma empresa criadora de games. A sala de visualização com projeção 3D permite ver os projetos criados em ação.

Durante um semestre, os estudantes desenvolvem um software. Muitos escolhem jogos educacionais e percebem já na graduação a necessidade de trabalhar com profissionais de diferentes áreas. No ano passado, um grupo criou uma ferramenta para ser utilizada em escolas. O desenho feito pelo professor em uma superfície se transformava em um diagrama 3D, com o qual os estudantes poderiam interagir.

— A grande vocação desse laboratório é a interdisciplinariedade, porque esses profissionais vão estar em contato com diversas áreas do conhecimento. Tentamos reproduzir uma situação real do mercado de trabalho – conta Cláudia Werner, coordenadora do Lab3D da universidade.

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