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  Publicado: Segunda, 26 Janeiro 2015 16:52
  Fonte: O Globo

 

Segundo Banco Mundial, todas as semanas alunos das escolas públicas brasileiras perdem o equivalente a um dia de aula por absenteísmo e baixa qualificação dos docentes.

Estamos no século 21 com uma evidência: o crescimento econômico depende da qualidade da informação e, esta, da qualidade da educação. O lugar privilegiado da modernidade econômica é ocupado pelos criadores e produtores de informações, mais do que produtos materiais. A educação se transformou na base da produtividade.

 

 

O abismo da pobreza nos países do chamado Terceiro Mundo, entre eles o Brasil, traduz-se em níveis sofríveis de educação. Relatório do Banco Mundial mostra que todas as semanas os alunos das escolas públicas brasileiras perdem o equivalente a um dia inteiro de aula por causa do absenteísmo e da baixa qualificação dos docentes. Um recente estudo da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE), espécie de clube dos países ricos, mostra que nosso país ainda tem muito chão a percorrer antes de se comparar ao Primeiro Mundo. Recentemente tivemos a notícia de que o Enem reprova 43% das escolas estaduais. Colégios da rede pública não atingem grau mínimo para comprovar conhecimento. De fato, a estabilidade política, as conquistas democráticas e o bem-estar econômico não se sustentam sem o acesso crescente do povo à educação. Um dos problemas do setor público que se refletem negativamente na qualidade do ensino é a dificuldade de se planejar no longo prazo. É possível haver desenvolvimento quando somente 47,7% de alunos que iniciam o estudo fundamental o concluem? O currículo escolar contém excesso de conteúdo enciclopédico, sem aprofundamento de conceitos, e não proporciona autonomia de escolha frente aos projetos de vida dos jovens.

É preciso fortalecer o magistério. Não é possível exigir do mestre cada vez mais carga horária e mais responsabilidade, com baixos salários e instrumentos de trabalho cada vez mais escassos. O futuro do país se ilumina cada vez que um professor recebe melhor treinamento, tem plano de carreira, melhora seu status e aumenta sua presença social. O professor tem direito, como todo cidadão, de participar da política, mas tem a obrigação de ampliar nos alunos o conceito de politização, mais além da militância partidária, e não através de proselitismo ou dissimulação. Cabe à escola formular o bom conceito da política, transferindo a ideia do poder sobre as pessoas para o do poder com as pessoas. As escolas são o melhor lugar para se aprender ética na política. O que é um comportamento ético? Esse conceito, flexível e cultural, deve ganhar mais importância na medida em que o professor ajuda o estudante a compreender o valor das coisas.

O ensino moderno é um processo inacabável. É necessário oferecer conhecimentos inseparáveis do destino do trabalho e do empreendedorismo. Educação, enfim, para a democracia, de olhos abertos para a inovação e às necessidades do nosso povo. Ninguém perde conhecimento quando o compartilha. A escola precisa ser uma comunidade comprometida com seus fins e, para isso, precisa de professores valorizados que entendam sua missão, sejam capazes de exercer liderança, relacionar-se bem com a sociedade e mostrar resultados. Só assim nos livraremos de falsos slogans e poderemos pensar em ser uma pátria educadora.

Carlos Alberto Rabaça é sociólogo e professor