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  Publicado: Sexta, 12 Dezembro 2014 11:20
  Autor: Samy Dana
  Fonte: Folha de S.Paulo


Decidir sozinho sobre as questões da vida nem sempre pode resultar em melhores escolhas. Algumas "arquiteturas" comerciais, muitas vezes, podem nos fazer decidir por opções que desconsideraríamos. Para comprar produtos, isso pode até parecer óbvio, como no caso de combos e promoções. Mas e quando se trata da escolha de um curso superior?

 

Alguns autores denominam essas arquiteturas de escolha como "empurrãozinhos". Pense em uma merenda escolar. Estudos apontam que a forma como a comida é disposta no prato pode influenciar quais alimentos serão mais consumidos pelas crianças.

Quando se trata da sua educação, apesar de você já ser adulto e saber ponderar muito bem sobre as questões cotidianas, pode ser que nem sempre escolha as "melhores" opções de cursos sozinho.

Baseando-se em ideias como essa, muitos desenhos de políticas públicas ou programas governamentais são feitos com o objetivo de ajudar as pessoas a fazer escolhas que, pelo menos na teoria, melhoram seu bem-estar.

No caso brasileiro, a política de inclusão de alunos no ensino superior por meio do financiamento de cursos privados, o ProUni, é um desses "empurrãozinhos".

Deve-se reconhecer o mérito desse tipo de medida na inclusão dos jovens na vida acadêmica, mas não se pode ignorar as falhas. Grande parte dos cursos financiados pelo programa não oferece a preparação acadêmica minima necessária para um profissional e, na prática, esses acabam sendo similares ao conteúdo do ensino fundamental e médio.

Apesar de estarmos em um mundo onde novas formas de conhecimento estão cada vez mais valorizadas, a ideia de sucesso por meio da conclusão de cursos superiores nunca teve tanto espaço. O estereótipo de estudante universitário bem-sucedido foi incorporado nas cabeças dos jovens como meta de sucesso. No entanto, o modelo educacional atual não é adequado a todo tipo de pessoa, o que acaba frustrando a carreira e a formação de muitos.

Em Economia Comportamental, chamamos essa estereotipação de "representatividade". Quando se pergunta a um brasileiro, por exemplo, qual é a probabilidade de que um indivíduo tenha mais sucesso na carreira, a ideia provavelmente virá atrelada à posse de um diploma universitário.

Ou seja, essa "probabilidade mental" estará associada a quão representativo o indivíduo com curso superior é do grupo dos indivíduos com uma carreira de sucesso.

Apesar de a conta fechar na cabeça, o problema fica evidente quando muitos desses jovens enfim terminam seus cursos e enfrentam grandes dificuldades de conseguir emprego. Dentre os que conseguem, a maior parte ganha um salário muito baixo, dada a também baixa percepção do valor do diploma aos empregadores.

Um exemplo sobre a questão de representatividade e cursos superiores pode ajudar a entender melhor o problema. André, um colega nosso cujo nome real mudamos, é de família de classe média baixa. André sempre tirou boas notas no colégio e tem muitas afinidades com temas financeiros. Quais seriam os principais futuros prováveis para ele? André poderia se tornar um administrador de sucesso por meio da escolha de um curso que pudesse ser financiado pelo ProUni.

O empurrãozinho dado pelo financiamento pode fazer com que você pense que a chance de André de fato se tornar um administrador de sucesso agora é muito maior. Entretanto, observe: não é logicamente possível dois eventos serem mais prováveis do que um deles sozinho. Se a probabilidade de André se tornar um administrador é de 60% e a probabilidade de ele escolher um financiamento do ProUni é de 70%, a probabilidade de que as duas coisas aconteçam juntas é de apenas 42% caso sejam independentes.

Se na sua cabeça parecia que a probabilidade seria maior antes de fazer a conta, dado que a ideia é convincente, não se espante, seu cérebro continua funcionando muito bem.

"Empurrãozinhos" em nossa cultura normalmente nos ajudam a viver de forma melhor, sem precisar ponderar a todo momento sobre cada uma das escolhas que devemos seguir. Mas é importante ter em mente que nem sempre os modelos mais difundidos serão de fato os mais vencedores.