Publicado: Quinta, 16 Outubro 2014 16:05
  Autor: Wanderley de Souza
  Fonte: Portal Terra - Jornal do Brasil


É hoje amplamente reconhecido que a ciência brasileira ocupa uma posição de destaque no mundo, sendo responsável por cerca de 2,4% dos artigos publicados em revistas internacionais especializadas. Infelizmente, tal posição não melhorou nos últimos anos, muito provavelmente devido à redução nos investimentos feitos pelo Ministério de Ciência e Tecnologia e suas agências de financiamento.

 

Esta informação é relevante para que as agências de fomento possam criar mecanismos que assegurem e fortaleçam a liderança nacional. Os dados são também importantes para identificar nossas fragilidades em áreas fundamentais para assegurar um desenvolvimento científico e tecnológico necessário para que o país avance do ponto de vista econômico e social. Consideramos como áreas de destaque aquelas em que o país ocupa posições mais altas, aproximando-se do primeiro lugar. 

Comentaremos  aqui apenas as áreas em que o Brasil  se coloca  nas cinco primeiras posições, levando-se em conta as publicações entre os anos 2009 e 2013. O aspecto qualitativo desta contribuição pode ser avaliado pelo impacto médio dos trabalhos, uma relação entre o número de vezes em que os trabalhos foram mencionados e o número de trabalhos publicados.  

Na área multidisciplinar de Agronomia, o Brasil ocupa a 1a posição, tendo publicado 5.260 artigos que foram citados em outros artigos 6.301 vezes, com uma relação entre citação e número de artigos de 1.2. Nesta área específica, as posições seguintes são ocupadas pela China, Estados Unidos, Espanha e Índia, sendo que o impacto das publicações destes países tem sido significativamente maior que o alcançado pelo Brasil. Outra área de grande destaque está relacionada às Ciências Veterinárias, voltadas para produção animal, onde ocupamos a 2a  posição mundial, publicando 6.778 artigos que foram citados 11.106 vezes, com um impacto médio de 1,6. A primeira posição nesta área é ocupada pelos Estados Unidos, com 16.056 publicações e um impacto médio de 3,3. O Brasil é seguido pela Inglaterra, Alemanha e China. 

Cabe ressaltar que as áreas da Agronomia e das Ciências Veterinárias têm grande impacto econômico, tanto no que se refere ao abastecimento interno da cadeia alimentar como contribuindo com 23% do PIB nacional e cerca de 40% da nossa pauta de exportações. Apesar deste fato (a) não há nenhum programa especial de apoio à pesquisa na área, que é desenvolvida pela Embrapa e em várias instituições universitárias, visando ampliar nossa posição quantitativa e qualitativa e (b) a Embrapa, uma das instituições responsáveis por termos alcançado esta posição, não tem sido apoiada, como necessita  e merece, pelos resultados até aqui alcançados. 

Na linha de frente da Ciência brasileira destacam-se, ainda, as áreas relacionadas com o estudo de agentes biológicos responsáveis pelas doenças infecciosas e parasitárias, área esta de grande tradição da pesquisa científica brasileira. Realmente, nas áreas de Zoologia, Parasitologia e  Medicina Tropical, o Brasil ocupa a segunda posição. Em Parasitologia, os pesquisadores brasileiros publicaram 3.280 artigos, com um impacto médio de 4,2 sendo  a primeira posição ocupada pelos Estados Unidos que publicaram 5.791 artigos com impacto médio de 9,9. Inglaterra, Alemanha e França ocupam a terceira, quarta e quinta posições, respectivamente. Mais uma vez, o financiamento à atividade de pesquisa nesta área está muito aquém das necessidades, apesar de lidar com doenças que não existem nos países  desenvolvidos.

Outras áreas onde o Brasil vem ocupando posições relevantes incluem (a) o setores de florestas, estudo de insetos (Entomologia), estudos morfológicos na área biomédica e Engenharia Agronômica, ocupando a terceira posição em todas essas áreas, (b) a Biologia geral e o estudo de conservação da biodiversidade, onde ocupa a quarta posição e (c) a área da microscopia, ocupando a quinta posição. Em outras áreas, como Física, Química, Engenharias, Medicina, entre outras, a posição relativa da Ciência brasileira é bem menor e será objeto de análise em outro artigo.

*Wanderley de Souza, Professor Titular da UFRJ. Membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina

© 2024 Funadesp. Todos direitos reservados.

Desenvolvido por AtomTech