Publicado: Quinta, 06 Junho 2013 14:53
  Autor: Alexandre Le Voci Sayad*
  Fonte: JM News - Ponta Grossa/PR

Um estudante, há alguns dias, me perguntou, de forma intrigante, por que a escola não nos ensina como lidar com questões do dia a dia.


Desconfio que não seja o cérebro o único órgão do corpo humano que esteja pronto para desafiar, confrontar e lidar com situações cotidianas. Nossa leitura de mundo e a construção de nossa ética parece passar mais pela experiência do que pela consciência. Aprendemos o que é certo copiando modelos, experimentando, e não ouvindo discursos.

Na escola do nosso tempo, focada no cérebro, ética, responsabilidade e cidadania têm sido áreas encaradas tal qual disciplinas escolares das mais tradicionais são abordadas. O convite mais comum é “vamos aprender ética vendo as implicações legais de você cometer um delito?” Ou então, “vamos estudar a evolução dos Direitos Humanos na história do mundo?”

A evolução dos Direitos Humanos é, sem dúvida, um assunto interessante, mas não suficiente para que o estudante comece a construir uma escala de valores. Que tal abrir um espaço na escola para que os estudantes se expressem e, assim, criar um modelo de garantia de Direitos Humanos? Infelizmente, escola não cria modelos, mas repete conteúdos; raramente o aluno experimenta ou cria.

Enxergo na produção de comunicação por estudantes dentro da escola, seja de jornais, fanzines, rádio ou documentários uma oportunidade de se vivenciar a cidadania, e não de se ouvir falar sobre ela. Esse é um dos pressupostos da Educomunicação.

Se tratarmos os temas do cotidiano como disciplinas isoladas, em breve a grade escolar não suportará tantas aulas que serão reivindicadas. Cidadania é algo transversal a tudo que se aprende na escola e na vida. Por isso, precisa funcionar por projetos, com experimentação e “mão na massa”.

Aliás, para os docentes que se sentem “esvaziados” de funções num tempo de internet e tablets, a ética é algo ainda inerente e insubstituível ao papel do ser humano na educação. É na troca de experiências diárias com os alunos que ela é construída; baseada no que se faz, e não no que se diz.

Tentando responder ao questionamento do meu estudante no primeiro parágrafo, talvez a melhor resposta seja: “porque a escola quer que você escute e memorize, e não questione ou se permita errar. Ela educa você, e raramente ‘com’ você”.

*Alexandre é jornalista e educador. É fundador do MEL (Media Education Lab) e autor do livro “Idade Mídia: a comunicação reinventada na escola” (Editora Aleph).

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