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  Publicado: Sábado, 01 Junho 2013 14:40
  Autor: Robison Sá
  Fonte: InfoEscola

Quanto mais refletimos e tentamos consertar os erros causadores das derrotas da educação, mais nos parece ficar distante a realização dos fins nos quais, grande parte dos engajados na busca de uma educação que atenda aos anseios da sociedade moderna, bem como de todo o corpo docente, discente e comunidade escolar, se propuseram a atingir. Pensemos então! Será que esse é um diagnóstico que nos leva a conclusão de que a educação brasileira não tem mais jeito? Seria o caminho mais correto cruzarmos os braços e somente assistir a decadência definitiva da possível redentora da sociedade?


Embora eu seja muito otimista, não posso simplesmente fechar os olhos e ignorar todos os acontecimentos negativos que nos empurram correnteza abaixo, sem mesmo deixar fortes expectativas quanto a sua correção e, portanto, inevitavelmente, conduz-nos ao insucesso no que se refere à parturição e manutenção de uma educação funcional, anunciadora do sucesso, exterminadora dos fracassos. Sei da complexidade para se adquirir soluções para cada problema que surge em meio a esse furacão de demandas e diagnósticos, mas de pouca dedicação e atenção por aqueles que têm o poder de criar bases legais que obriguem o poder público a realizar investimentos direcionados ora a revitalização, ora a criação de sistemas de ensino propícios ao êxito.


Mesmo mantendo minha consciência sobre esses fatores agravantes do naufragado ensino educacional brasileiro (em parte), e de muitos outros que durante este trabalho citarei, mantenho meu pensamento otimista e jamais deixarei de acreditar em dias melhores para nossa educação; jamais me curvarei perante o fracasso; nunca me permitirei deixar de investir em novas metodologias, formação, conteúdos diversos, bibliografias várias e trabalho duro, tudo isso na tentativa de modificar esse panorama de descrença e deboche em relação à educação que todos, querendo ou não, fazemos parte.

Ditas essas poucas considerações iniciais, vamos agora tentar encontrar alguns dos culpados pela decadência do ensino, bem como pela ineficiência do aprendizado.

A culpa é um quociente

Não podemos dizer que esse ou aquele é o culpado por tudo que acontece no cenário educacional, negativa ou positivamente. Nossa consciência deve ser preenchida com a certeza de que todos, sem exceção, somos culpados. Essa afirmação soa muito rígida, generalizante, mas é a única que, mesmo após longo período de estudo, reflexão e experiência, encontrei. Vamos então analisar caso a caso.

Os legisladores, pessoas com poder de criar leis que envolvam a nossa educação num clima de seriedade e devido respeito, diferentemente do que ocorre hoje, onde a astronômica importância da educação transformou-se apenas em discurso político ou mesmo em motivo de piada, não realizam o trabalho esperado por aqueles que realmente se preocupam com a educação. As burocracias são tantas, que alguns parlamentares desistem, antes mesmo de tentar, de colocar à prova algum projeto benéfico ao ensino brasileiro. Eles são culpados, pois o poder que lhes são atribuídos por nós, sociedade, é envolto numa responsabilidade de resposta aos nossos anseios.

O poder público também é omisso. Os governos municipal, estadual e federal investem muito pouco na educação e, quando investem, não se baseiam num planejamento que garanta que o investimento feito gerará resultados positivos à educação. É preciso muito compromisso dos nossos governantes. É preciso o reconhecimento de que somente seremos reconhecidos pelo mundo, quando formos capazes de exibir cidadãos preparados para o mercado nacional e internacional, mas não só para isso, que eles sejam também pessoas críticas, que reflitam sobre o que está ao seu redor, pessoas com fome de conhecimento, capazes de interpretar os mais variados textos, dos mais diversificados gêneros. Que possamos exibir cidadãos habilidosos na escrita, na leitura, no cálculo, no conhecimento geográfico e histórico desta e de outras nações, pessoas sociáveis, solidárias, compartilhadoras do conhecimento adquirido. Nesse dia, seremos reconhecidos como um país que realmente forma pessoas para o mun do. Enquanto esse dia não chega, posso afirmar que o poder público é culpado pelo nosso fracasso.

A sociedade é culpada. Isso por que cruza os braços diante do descaso, da má administração, da corrupção. Por que não cobrar dos nossos representantes legais? Por que não expulsarmos os corruptos e eleger pessoas com projetos que favoreçam a nossa educação? Por que não cobrar transparência no uso das verbas educacionais? Será que do jeito que estar, está bom? Somos, sim, culpados, por fechar os olhos diante do que não favorecimento do bem coletivo. Culpados por não tentar mudar. Por achar que somos pequenos, quando formamos uma nação inteira.

As secretarias de educação, assim como as equipes diretivas escolares, são também culpadas. Enquanto no primeiro caso vemos a irresponsabilidade, advinda do pensamento político egoísta, ao escalar profissionais, em grande parte dos casos, sem capacidade para gerir uma pasta. Retiram bons professores da sala de aula para, em alguns casos, serem péssimos gestores. Existem ainda os casos de nomeações de coordenadores pedagógicos, por exemplo, que acabam desempenhando funções díspares das suas, por falta do profissional que deveria cumprir aquela determinada tarefa. Muitos outros casos dentro desse contexto poderiam ser exemplificados. Ainda nesse embalo estão as direções escolares, sem generalizações. Estas preocupam-se muito mais com as questões burocráticos do que mesmo com o processo de ensino-aprendizagem. Não dão importância para o que realmente é digno de atenção numa escola: os processos de ensino, a aprendizagem do aluno, o apoio ao professor e aos demais mem bros da escola.

Os professores são culpados. Culpados por serem, em parte das vezes, coniventes com situações de perda para o aprendizado do aluno. Um exemplo disso são os casos de feriados imprensados, onde ninguém se manifesta contra, vista a deficiência no cumprimento do calendário escolar com dias tão insuficientes para um bom aproveitamento de aprendizagem. As faltas em demasia são agravantes para esse fracasso. Em outros casos, o professor cruza os braços por se imaginar impotente para tentar mudar o cenário de horror da educação. Mas se nós não podemos fazer diferente, nós que somos protagonistas dessa história; se não damos o primeiro passo rumo a uma mudança significativa da educação do nosso país, mesmo contra tudo e contra todos, quem mais dará esse passo? Os reclames são muitos: salário baixo, atraso, desmotivação, desvalorização, falta de reconhecimento etc. Todos eles são justos. Mas temos que pensar se estamos a cumprir, também, os nossos deveres de educadores. Est amos preocupados com o aprendizado do aluno? Estamos preocupados com a nossa formação, com o planejamento das nossas aulas, com o compartilhamento de informações com os demais colegas? Estamos frequentando as reuniões pedagógicas e apoiando as iniciativas apresentadas pela equipe de coordenação? Estamos apresentando ideias ou projetos que prometam reinventar a nossa história? O que realmente somos se não inventores de ideias, compartilhadores de experiências e defensores de uma educação que tenha como prioridade, fundamentalmente, transformar?

Os pais de alunos são coniventes e, portanto, culpados. Ao elaborar uma “tarefa de casa”, por exemplo, os professores esperam que os pais, além de auxiliar os seus filhos no cumprimento daquele “dever”, consigam também diagnosticar as possíveis dificuldades do seu filho e, imediatamente, procurar o professor para formar uma parceria que proporcione o melhoramento do aprendizado daquele jovem aprendiz. O pai deverá sempre ser parceiro da escola; deverá acompanhar passa-a-passo o desenvolvimento do seu filho. Mas será que na prática isso vem acontecendo? Na grande maioria dos casos, não. Portanto, os pais são culpados pelo fracasso da educação, por não marcarem presença na vida escolar do filho, por não cobrarem dos gestores municipais e escolares, melhores condições de chegada e estadia na escola, por apenas enviar os filhos à escola para no final do mês receber ajuda financeira do governo federal ou ficar “livres” deles por determinado período, por não importarem- se com a falta de transparência da vida escolar dos seus filhos. Claro que esses não são casos gerais, pois existem muitos pais presentes e, a estes, eu tiro o meu chapéu, mas não posso aqui omitir a culpa, que os que não se encaixam nesse grupo, possuem.

Os alunos também são culpados. Vejo muitos casos, aonde os alunos simplesmente vão à escola apenas para conversar e reencontrar os amigos. Mas não só por isso eles são culpados. Também são culpados por não gritarem os seus direitos ao poder público; dizer-lhe que exigem os seus direitos constitucionais; que são cidadãos que buscam o conhecimento e que, portanto, exigem o melhor de seus representantes. Os alunos, pelo menos parte deles, não se preocupam com o que a escolar tem a lhe oferecer ou o que serão no futuro sem aqueles conhecimentos organizados e sistematizados por ela. Apenas se recusam a aprender, sem mesmo um motivo defensável ter para tal ação. São ainda culpados por não querer para si um futuro promissor, possível apenas através do alicerce formado pela educação.

Considerações finais

Este trabalho é fruto de uma reflexão que fiz, após a leitura de alguns documentos educacionais, que mostraram-me a triste realidade na qual vivemos educacionalmente. É também embasado em minha experiência profissional, onde como coordenador pedagógico, consigo assistir atitudes dignas de aplausos, de glórias, mas também verdadeiras aberrações daqueles que se autoqualificam bons profissionais. Minha intenção não é apenas apontar culpados. É também de fazer enxergar que a culpa do fracasso do ensino e da aprendizagem em nossa nação é coletiva. Cada um de nós tem que ser corrigido, para que o problema geral comece a ser amenizado como reflexo dessa ação global.

Volto a lembrar, que nenhum desses fatores toma de mim o otimismo que por toda vida acumulei. Mesmo ciente das dificuldades, ainda acho que podemos reverter esse quadro. Por isso escrevi essas reflexões. Pensando que em algum momento esse trabalho irá jogar sobre te, leitor, a culpa que lhe cabe nessa problemática. Creio que juntos podemos alcançar a vitória nesse duelo contra o descaso, a descrença, a incerteza. Corrijamos os nossos erros e, a partir desse reparo individual, nos tornaremos um coletivo tão grande, que todos esses problemas nos parecerão pequenos. Juntos, podemos revitalizar a educação. Juntos, podemos mudar o mundo.

“Não há problema que não possa ser reparado, diante do reconhecimento do erro que o parturiu”. (Robison Sá)