Publicado: Segunda, 27 Maio 2013 11:48
  Autor: Karla Spotorno
  Fonte: Valor Econômico

Aqui está algo para se pensar. "Empregadores, instituições de ensino e jovens vivem em mundos paralelos." Quem contrata afirma que os recém-formados estão pouco preparados para o trabalho. Gastam em média 20 dias treinando quem acaba de entrar no quadro de funcionários e garantem que pagariam salários maiores aos que chegassem prontos para entregar os resultados esperados.


Mona Mourshed, da McKinsey, diz que escolas não fazem pontes para alunos

Por outro lado, quem prepara os futuros profissionais diz que eles estão, sim, capacitados para assumir uma posição assim que saem da faculdade. E os jovens, bem, eles pouco sabem sobre as perspectivas profissionais e do mercado que escolheram. O retrato da desconexão entre a juventude, as empresas e a rede de ensino pode chocar - ou até mesmo parecer leviano - para quem o vê assim em breves e brutas linhas. Mas o fato é que, para chegar a essa conclusão a especialista em práticas de ensino Mona Mourshed, diretora da consultoria McKinsey, e equipe entrevistaram aproximadamente mil instituições de ensino, 4,5 mil jovens e 3 mil empregadores em nove países. Além disso, revisitaram cerca de cem estudos de caso abrangendo 25 países. Os resultados brasileiros do estudo chamado "Educação para o Emprego" serão apresentados e discutidos na próxima quarta-feira em Brasília, em um seminário da McKinsey, da Confederação Nacional da Indústria e do movimento Todos pela Educação.

Na pesquisa feita no Brasil, um dos dados que chamou a atenção da coordenadora foi o fato de as escolas técnicas e de ensino superior elencarem como última de dez prioridades a conexão entre os estudantes e as empresas. "Observamos isso tanto nas escolas privadas quanto na rede pública", afirmou Mona em entrevista ao Valor. Na média dos nove países, essa iniciativa está no meio das prioridades no ranking de um a 10. Para a especialista da McKinsey e PhD em Desenvolvimento Econômico pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), esse é um dos dados que sinaliza a pouca preocupação das universidades com a trajetória de seus alunos depois que eles se formam. "De forma geral, as escolas no Brasil e no mundo parecem preocupadas em atrair e manter os estudantes até a conclusão dos cursos. Mas não sabem o que acontece com eles depois", afirma. Mona diz que existem exceções. Na Colômbia, por exemplo, o Ministério da Educação registra a trajetória dos formados por, aproximadamente, cinco anos e publica as informações no site "Observatorio Laboral para la Educación" (ou observatório do trabalho para a educação, numa tradução livre). O objetivo é avaliar e divulgar a empregabilidade proporcionada pelos diferentes cursos e escolas, entender a oferta do mercado de trabalho e também ajudar os jovens a escolher melhor as suas carreiras.

Pelo estudo, essa é uma dificuldade enfrentada por jovens em todo o mundo.

Quase metade dos estudantes escolheram suas profissões baseados apenas na opinião e nas informações da própria família. Apenas 40% conheciam as reais oportunidades de trabalho proporcionadas pela carreira escolhida. Além de terem pouca informação, os jovens brasileiros vivem alguns paradoxos. Mais de 70% percebem a carreira de engenheiro como altamente atrativa. Mas apenas 10% dos recém-formados nas universidades ganharam o diploma nessa área. Mona não sabe por que isso acontece. Pode ser tanto pela falta de dinheiro para pagar o curso quanto pela falta de tempo para estudar, visto que precisam trabalhar para se sustentar. Segundo a pesquisa, 43% dos jovens brasileiros reclamam da falta de condições financeiras para fazer um curso universitário, e 25% argumentam que precisam trabalhar. Os percentuais são mais alto que a média geral, que ficou em 31% e 20% respectivamente. Outro paradoxo é o fato de 72% dos jovens brasileiros acreditarem que a formação técnica profissionalizan te tende a facilitar a conquista de um posto de trabalho. Apesar disso, apenas 30% percebem que essa é uma formação valorizada pela sociedade.

Na avaliação de Mona, o déficit entre o perfil demandado pelas empresas e a capacidade dos recém-formados é um problema que afeta diretamente os negócios das empresas. "Não estamos falando de uma questão de responsabilidade social", diz a especialista. Ela afirma que é algo que compromete os resultados das empresas e sua perpetuidade. Entre os nove países pesquisados no estudo da McKinsey - Alemanha, Arábia Saudita, Brasil, Estados Unidos, Índia, Marrocos, México, Reino Unido e Turquia -, apenas 43% dos empregadores pesquisados confirmaram ser possível encontrar um número suficiente de trabalhadores iniciantes realmente qualificados. No relatório, os especialistas da consultoria afirmam que este "problema provavelmente não será um fenômeno temporário. Na verdade, ele deverá tornar-se muito pior". O McKinsey Global Institute estima que, até 2020, haverá escassez de 85 milhões de trabalhadores de nível alto e médio de qualificação nos países.

© 2024 Funadesp. Todos direitos reservados.

Desenvolvido por AtomTech