Publicado: Quinta, 02 Maio 2013 12:51
  Autor: Mozart Neves Ramos
  Fonte: Clipping do Ministério do Planejamento

O ensino superior brasileiro tem 6,3 milhões de alunos. A meta para os próximos 10 anos, em conformidade com o novo Plano Nacional de Educação (PNE), é mais do que dobrar esse número. Possivelmente, essa será a meta mais difícil de alcançar, não apenas pelo esforço que precisará ser feito diretamente no ensino superior, mas também porque dependerá necessariamente da melhora da qualidade da educação básica e do crescimento do atual modelo público de financiamento do setor privado de ensino superior.

O governo federal, por meio dos programas de financiamento estudantil Prouni (Programa Universidade para Todos) e Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), vem possibilitando a inclusão de milhares de alunos, especialmente das classes sociais C e D, no ensino superior. Foram esses programas que ampliaram sobremaneira as matrículas nesse nível de ensino. Nos últimos 10 anos, o crescimento verificado foi de 110%, e o setor privado é responsável hoje por 74% das matrículas.

Nesse cenário de expansão, e com grande demanda reprimida, que justifica a projeção do novo PNE, surgem com força e escala dois novos fatos: a internacionalização do ensino e as aquisições e fusões das instituições de ensino superior privado.

A internacionalização do ensino não é de agora no Brasil, mas manifestava-se apenas de maneira tímida e localizada em algumas universidades, ao contrário do que já se observava nas universidades europeias e americanas. Na Europa, por exemplo, com o advento da Convenção de Bolonha, em consequência da criação da Comunidade Europeia, a mobilidade de estudantes cresceu exponencialmente, promovendo a dupla titulação, o reconhecimento de estudos em mais de uma universidade e a adoção de um sistema único de avaliação de qualidade pelo Conselho de Reitores da Europa.

Aqui no Brasil, a internacionalização ganhou força e escala com o Programa Ciência sem Fronteira, implantado no atual governo, com meta de beneficiar estudos no exterior para 100 mil alunos brasileiros. Observa-se atualmente no Brasil a chegada de escritórios de representação de renomadas universidades estrangeiras, que veem em nosso país não apenas um nicho importante de demanda por ensino superior, mas também de oportunidades para novos negócios. As nossas universidades — poucas, é bem verdade, como a Universidade de São Paulo (USP) — também já começam a abrir escritórios para atuar em outros países.

Outro interessante exemplo vem da Universidade Tiradentes (Unit), de Aracaju, que encomendou ao Cambridge Institute for Brazilian Studies, em Boston, um estudo de viabilidade para instalar um escritório da Unit naquela localidade.

Nesse novo ambiente, surge também com força a compra de faculdades e universidades por grupos estrangeiros. São as instituições controladas por fundos de investimentos, que já dominam o setor privado no Brasil. Nesses últimos dias, por exemplo, acompanhamos o maior negócio já registrado no mundo na área da educação. Kroton e Anhanguera, ambas controladas por esses fundos de investimentos e já líderes em tamanho no Brasil, uniram suas operações para formar um conglomerado com quase 1 milhão de alunos, receita de R$ 4,3 bilhões e atuação em 835 cidades brasileiras. Isso representa algo em torno de 15% de todos os alunos do Brasil. Segundo os executivos dessas empresas, o negócio foi considerado estratégico para o atual cenário da educação superior no Brasil. Certamente, isso vai representar um novo ciclo na iniciativa privada do setor no país.

É tempo de novos fluxos, que fazem criar cenário de oportunidades; de novos nômades globais, jovens da geração dos países sem fronteiras do conhecimento, da criação e da inovação. Esse cenário é efervescente, mas precisa ser acompanhado com atenção, de forma a assegurar uma nacionalização capaz de dialogar com o mundo de igual para igual.

Membro do Conselho Nacional de Educação e do Conselho de Governança do Todos Pela Educação, professor da Universidade Federal de Pernambuco, foi reitor da UFPE e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superio (Andifes)

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